2007-10-11

Quando a ecologia e a economia colidem

As campanhas de sensibilização e as obras que têm permitido uma poupança considerável de água podem parecer, assim à primeira vista, com aquele olhar ingénuo de quem não sabe muito bem onde vive, uma coisa boa. Visto desta forma, sabendo que, em dois anos, de 2005 a 2007, se deixaram de gastar cerca de 6 milhões de metros cúbicos, poder-nos-iamos sentir tentados a exultar de alegria.

Puro engano. A olhar para as coisas pelo lado da ecologia, malandreco? Volta lá à terra! Esses seis milhões de metros cúbicos deixaram de ser vendidos! E as empresas, sim senhor, têm cartazes azuis e preocupações verdes, mas andam aqui para prosperar e, não tendo nada contra a poupança, preocupam-se com as quebras de receitas.

Vai daí, a Águas do Douro e paiva (AdDP) decidiu aumentar o preço da água em 8,1%, a sentir já nas facturas de 2008 por todos os habitantes dos 18 concelhos da Área Metropolitana do Porto abastecidos por esta empresa.

Rui Rio, o querido líder de um dos maiores clientes da empresa, achou o aumento “uma barbaridade”. Mais tarde, à saída de uma reunião extraordinária que juntou os 14 municípios da Junta Metropolitana do Porto, chegou a afirmar que “empresas de distribuição de água como a AdDP não devem ser empresas altamente lucrativas”.

Ora, vendem-nos a pastilha de que só através de empresas é que os serviços conseguem ser fornecidos em condições satisfatórias. Depois, quando o mercado faz com que as coisas corram um bocado para o torto, quer-se colocar entraves ao mercado, penalizar os accionistas da empresa, sempre tão louvados, colocar essa empresa num patamar semelhante ao do Estado, onde o serviço não tem que ser lucrativo.

Se a proposta aparecesse noutra altura e vinda de outro lado, não faltariam as palavras sobre a obsolescência de tal discurso. Mas, agora, parece que a competitividade já não é o bem supremo, parece que a satisfação dos accionistas não é já a razão principal para a boa gestão, quase que podemos acreditar que, afinal, o crescimento das empresas não anda de mão dada com a melhoria das condições de vida.

As razões para nos opormos à privatização dos bens e serviços públicos não estão em “livros bolorentos” nem em “ideologias passadistas”. Aparecem-nos em casa.

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