2007-05-29

Míopes e cobardes...
... e siga a guerra

A Amnistia Internacional, no seu relatório de 2007, acusa o governo de Bush de “tratar o mundo como um grande campo de batalha” a pretexto da luta “antiterrorista”. Os termos da AI são invulgarmente duros, para mais tratando-se dos EUA. Com efeito, o que é dito não se fica por casos pontuais: é toda a política posta em marcha na “guerra ao terror” que é visada. A AI denuncia a “globalização das violações do direito internacional” e aponta a política dos EUA como o exemplo mais acabado dessas violações. As estratégias contra-terroristas, prossegue a AI, “pouco fizeram para reduzir a ameaça de violência ou garantir justiça para as vítimas de ataques”, mas, em contrapartida, “fizeram muito para prejudicar os direitos humanos e o Estado de direito”.

Além dos EUA, a AI critica ainda a colaboração prestada à política norte-americana por “lideranças míopes e cobardes” e “líderes sem princípios” que encorajam, sustentam e instigam o medo.

Um dos exemplos disso está no programa dito de “entregas extraordinárias”, também denunciado pela AI, ao abrigo do qual os EUA e os seus aliados têm raptado e conduzido a prisões secretas e a centros de tortura centenas de pessoas de todo o mundo. Os voos da CIA, dezenas dos quais passaram por território português, praticaram precisamente esses crimes. O incómodo sentido pelas autoridades portuguesas com o assunto, e o silêncio que procuraram fazer cair sobre o tema, são na verdade um encobrimento de um tipo de crime que acaba por “desbaratar os direitos humanos em nome da segurança”, para usar uma expressão do relatório da Amnistia Internacional.

Siga a guerra

Foi um fogacho, afinal, a proposta dos democratas norte-americanos de impor uma data para a retirada das tropas dos EUA do Iraque. Há meses, a maioria democrata no Congresso aprovou o reforço do orçamento de guerra pedido por Bush com o argumento de que, em contrapartida, imporia um limite à presença das tropas norte-americanas no Iraque, que seria Agosto de 2008. Bush agradeceu a aprovação do orçamento e vetou a retirada. Com a chantagem de que uma data para retirar as tropas equivalia a uma “capitulação”, a administração travou um braço de ferro com a maioria e … conseguiu que ela cedesse.

“Não podemos aprovar nada sem a assinatura do presidente e ele não aprova nada sem o nosso acordo”, justificou-se o líder da maioria democrata na Câmara dos Representantes, que insiste em não ver nisto uma vitória de Bush.

As esperanças que as eleições de final de 2006 representaram para maioria da população norte-americana – que deu a vitória à oposição – desvanecem-se deste modo inglório, aprisionadas dos entendimentos entre democratas e republicanos. Razão tinha o relatório Baker- Hamilton ao dizer que a grave situação no Iraque precisava de ser suportada por entendimento bipartidário na retaguarda. Ele aí está – resume-se à continuação da guerra.

Fonte: Tribunal Iraque