2007-04-30

Os bastões de Abril

"Das dezenas de manifestantes agredidos à bastonada, dois receberam tratamento hospitalar e onze ficaram detidos até quinta-feira, estando agora sujeitos a termo de identidade e residência." (das notícias deste portal)

São os suspeitos do costume. São rastas, são anarcas, são negros, são operários, são pobres. Cometem os crimes do costume: arrastões, pichagens, piquetes de greve, manifestações, pilhagens. E são também mulheres, mas essas levam é em casa, não se trazem para a rua sarilhos domésticos.
E levam a pancada do costume, um por todos e todos por um. Aqui e agora, ontem e lá fora. Na Rua do Carmo ou em Los Angeles, em Génova ou em Paris. Estão a jeito, descontrolam-se, perturbam a ordem pública, que fazer? Pensassem nisso antes! Quem se mete nelas deve acatar com as consequências. E o direito à propriedade privada e à segurança? Se não fosse a polícia até onde poderiam ir?

São suspeitos antes de o serem. Assustam a quietude burguesa. Têm estranhas cores de pele, não usam desodorizante, vestem mal. Perturbam o equilíbrio visual da paisagem urbana.

"Os ânimos exaltaram-se ontem, junto aos portões da empresa de construção Pereira da Costa, na Venda Nova, com os trabalhadores a acusarem a polícia de ter "carregado" sobre eles à "bastonada". " (DN 14/03/07)

Pois, estes queriam impedir "uma providência cautelar apresentada por Luís Moreira, o dono da empresa, para reocupar as instalações". Patrão que há meio ano abandonou a empresa não cumprindo "uma decisão do tribunal que exigia a reintegração de cerca de 90 trabalhadores na Pereira da Costa e o pagamento dos salários, que estão em atraso desde Setembro". Ora, então é um caso de tribunal, porque é que não recorreram a instâncias superiores? Portugal é um estado de direito democrático, não vigora aqui a lei da selva.

"Sabe-se que cerca de 56% (dos presos portugueses), à altura da detenção, estavam sem emprego, que 45% estariam doentes e que cerca de 50% eram toxicodependentes." (JN 21/02/2007)

Lá está, não só são suspeitos como se prova que têm instintos criminosos. Não trabalham e ainda roubam para a droga e sobrecarregam o Serviço Nacional de Saúde. Há outra solução que não seja mantê-los isolados da sociedade, da maioria que vive com civilidade?

Enfim, quando será a próxima carga policial? 1º de Maio, na manif fascista? Não, que essa é ordeira e autorizada pelo Governo Civil. E pela sociedade civil. Pelo bom burguês. Porque o bom e pacato burguês apenas é contra TODAS as manifestações violentas. E nós? Também sim ou também não?

João Delgado (esquerda.net)

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