2007-03-12

Guerra Ecológica

Na BBC, saiu uma notícia
à qual não consegui resistir...

O humano, tal como qualquer outro ser vivo, sempre utilizou, em proveito próprio, aquilo
que a Terra tem e dá. A determinada altura, decidiu que era legítimo que uns usurpassem
partes dos bens comuns e chamou-lhe propriedade. Dentro do mesmo espírito, não tardou
a colocar preço em tudo o que saía do terreno que é de todos. Achou que era normal,
sem reparar que esses foram os momentos em que desistiu de existir como espécie, o que
talvez explique esta tendência de, na tentativa de sobrevivência individual, causar a aniquilação
colectiva. Mas isso é outra discussão, ou contas de outro rosário, se decidirmos respeitar a
herança cristã que, queiramos ou não, carregamos.


Durante vários milénios, a nossa relação com o planeta foi equilibrada, regida pela máxima
“vive e deixa viver”, adoptada pelas duas partes. Éramos apenas mais uns dentro do grande
ecossistema planetário.


A determinada altura, há mais ou menos 500 anos, alguns de nós acharam que o canto que
lhes tinha calhado em sorte não era suficiente. Muniram-se de armas e meios de transporte
e partiram à conquista de novos espaços, não se coibindo de chacinar outros humanos no
processo. O resto da vida terrestre viu este fenómeno como uma luta fratricida e não se
preocupou demasiado. Pelo menos até a introdução de espécies animais e vegetais em locais
não preparados para as acolher ter causado os primeiros grandes atentados ecológicos de
origem humana. Mas os processos antropogénicos de destruição ainda eram lentos e, afinal,
a Terra sempre se caracterizou pela sua capacidade de regeneração. Assim, sofrido o ataque,
recompôs-se e preparou-se para seguir em frente.


Entretanto, a nossa espécie lembrou-se de arranjar máquinas que fizessem partes do trabalho
que, normalmente, nos cabia a nós. Uma ideia nobre, se o seu objectivo tivesse sido retirar
trabalho às pessoas ou se as suas consequências não fossem devastadoras para o meio ambiente.
Mas, na verdade, a industrialização mais não fez do que concentrar pessoas em metrópoles e
poluição nas águas, nas terras e no ar, ao mesmo tempo que endurecia as condições de vida e trabalho.


O ritmo infernal destra transformação deixou o planeta sem resposta atempada. A sua capacidade
de reacção a ataques não era suficientemente forte ou rápida para absorver o choque. Eis-nos, então,
chegados a um momento em que a relação de“vive e deixa viver” que o ser humano tinha com a
Terra deu o lugar ao “isto não é suficientemente grande para nós os dois”, restando, hoje, apenas
saber se o mundo conseguirá ver-se livre dos humanos sem se autodestruir.


Teriam, então, que ser as pessoas a rectificar o que tinham estragado. Em várias partes do mundo
iniciaram-se discussões sobre a melhor forma de nos mantermos a tirar partido da Terra sem a
prejudicar demasiado. Havia até quem dissesse que o que urgia era re-inventar a vida humana em
harmonia com o planeta, mas a esses ninguém queria ouvir, como tantas vezes acontece a quem
achamos que tem razão.


Era, portanto, necessário identificar as práticas mais destrutivas e tentar mitigar os seus efeitos.
De entre elas, surge, por exemplo, a guerra, que já não se limita, como há 500 anos, a matar
humanos... contamina terrenos, destrói recursos hídricos, enche a atmosfera de gases de efeito
estufa, ... Acabe-se, então com a guerra, apetece dizer se não nos impedirmos de soltar a nossa
faceta sonhadora. Mas claro que isso não pode ser... Acabar com a guerra seria demasiado
dispendioso, demasiado aventureiro. Arriscar-se-ia uma crise económica global e, como sabemos,
os poderes mundiais estão dispostos a tudo menos a tal calamidade. Antes a aniquilação dos
humanos do que uma crise económica...


Das suas cabeças surgiu, então, uma ideia de mestre, uma inovação na forma de encarar o planeta...
Se, antes, até para nos matarmos uns aos outros, achávamos que tínhamos direito a causar dano à
casa que nos alberga, isso, agora, mudou, como se pode ler na notícia “Alemanha desenvolve armas
ecológicas ” que aqui transcrevemos.


Iremos continuar a matar-nos pelas razões mais mesquinhas. E iremos continuar a colocar o sacrossanto
lucro acima de todos os outros valores. Mas ninguém poderá continuar a acusar a indústria da guerra
de não ter preocupações ecológicas. Durmamos, irmãos, descansados, que há quem zele por nós.